Craque
e irmão foram acusados de entrar no país com passaportes adulterados. Martín
Fernandez e Guilherme Pereira analisam e debatem situação do pentacampeão.
Na
audiência em que seria definida o tamanho dessa "pena social", houve
uma reviravolta. A justiça não aceitou dar o "critério de
oportunidade" para Ronaldinho e Roberto. O Ministério Público mudou sua
posição e pediu a prisão preventiva dos irmãos Assis. As 22h de sexta-feira, 6
de março, quando estavam num hotel próximo ao aeroporto, os irmãos Assis foram
detidos e levados para a Agrupación Especializada. Desde então três recursos
apresentados pela defesa de Ronaldinho foram negados pela Justiça. Os advogados
de defesa não conseguiram nem mudar os irmãos Assis para uma prisão domiciliar,
e nem anular a prisão preventiva, que no Paraguai pode durar até seis meses. O
argumento para manté-los presos foi sempre o mesmo: soltá-los poderia
prejudicar o andamento das investigações.
Agrupación Nacional Agrupação Especializada Polícia Nacional no Paraguai.
Um
mês depois, Ronaldinho segue preso no Paraguai e sem perspectiva de sair. Exatamente
um mês atrás, no dia 4 de março, acompanhado de seu irmão, Roberto Assis,
Ronaldinho Gaúcho desembarcou no aeroporto internacional Silvio Pettirossi em
Luque, na grande Assunção. Foi recebido como o popstar que é, duas vezes eleito
o melhor jogador do planeta, campeão do mundo, da Liga dos Campeões, da Copa
Libertadores. De óculos escuros, boina preta, camiseta branca e o sorriso
característico, Ronaldinho cometeu naquele aeroporto um erro pelo qual paga até
hoje: seguiu para um sala VIP, onde lhe entregaram um passaporte paraguaio com
seu nome, seus dados, sua foto, mas ainda sem sua assinatura – lacuna que ele
preencheu ali mesmo, naquela sala VIP, com uma caneta que também lhe chegou as
mãos, como se estivesse dando mais um dos incontáveis autógrafos que distribuiu
ao longo da carreira.
Ronaldinho Gaúcho, 40 anos: o peso do craque no Brasil e o real tamanho no
futebol mundial
Neste
sábado, 4 de abril, Ronaldinho Gaúcho amanheceu pela trigésima vez num cela da
Agrupación Especializada, um quartel da Polícia Nacional do Paraguai
transformado em cadeia em Assunção. O passaporte adulterado que ele e Assis
usaram para entrar no Paraguai – e que custaram R$ 30 mil reais cada um – foram
o ponto de partida de uma investigação do Ministério Público e do Ministério de
Tributação (o equivalente a Receita Federal do Brasil) que já resultou na
prisão de 15 pessoas e começou a desvendar um esquema milionário de evasão de
divisas, lavagem de dinheiro e produção de documentos falsos.
O
"Caso Ronaldinho", que um mês atrás começou em ritmo vertiginoso,
hoje se move com lentidão. Na noite daquele mesmo 4 de março, Ronaldinho e
Assis receberam no hotel a visita de autoridades paraguaias. Passaram a noite
sob custódia e, no dia seguinte, contaram ao Ministério Público tudo o que
sabiam. Admitiram que tentaram entrar no país com aqueles documentos, mas que
não sabiam serem falsos. O MP paraguaio enquadrou os irmãos Assis numa figura
jurídica chamada "critério de oportunidade", que a grosso modo
permite aos réus não serem acusados formalmente pelos crimes que cometeram,
desde que consigam reparar o dano causado. Na prática: Ronaldinho e Assis
seriam submetidos a uma "pena social" – uma doação para uma ONG, por
exemplo – e poderiam deixar o Paraguai.
Agrupación Nacional Agrupação Especializada Polícia Nacional no Paraguai.
O
último desses recursos foi negado numa sexta-feira 13, uma semana depois da
prisão. Desde então, o sistema judicial do Paraguai passou funcionar com
restrições por causa da pandemia do coronavírus. Outros recursos só serão
apresentados pela defesa após o fim do recesso – que não tem data prevista. No
dia 18 de março, uma terça-feira, teve início uma perícia nos telefones
celulares de Ronaldinho e Assis. Quase três semanas depois, esse procedimento
ainda não foi concluído. A defesa dos brasileiros diz acreditar que o resultado
dessa perícia será importante para provar que eles não fizeram nada além de
terem entrado no país com aqueles documentos.
Mas
o que Ronaldinho foi fazer no Paraguai? A resposta passa obrigatoriamente por
Roberto Assis, irmão do craque e seu agente desde sempre. Assis aceitou uma
proposta apresentada por um amigo, Wilmondes Souza Lira, de abrir uma empresa
para fazer negócios no Paraguai. Wilmondes é casado com Paula Lira, que por sua
vez é (ou era) amiga da paraguia Dalia Lopez, que financiou tanto a confecção
dos passaportes falsificados quanto a própria viagem de Ronaldinho e Assis no
Paraguai.
O
"projeto" que unia Dalia Lopez, o casal Lira e os irmãos Assis era
mambembe, para dizer o mínimo: transformar ônibus em "clínicas
móveis", que atenderiam crianças carentes no Paraguai. Os veículos teriam
a imagem do craque brasileiro. A ONG que viabilizaria o projeto não tem site na
internet e nem endereço físico. Segundo o GloboEsporte. com apurou, ao aceitar o
convite para viajar ao Paraguai, Roberto Assis não consultou nem os advogados
brasileiros com quem trabalha há anos.
Dalia
Lopez é uma empresária do ramo de exportação, alvo de uma investigação por
parte do Ministério da Tributação, iniciada em setembro de 2019, e sigilosa até
a chegada de Ronaldinho ao Paraguai. Ela é acusada de desviar pelo menos US$ 10
milhões em um esquema de sonegação de impostos e lavagem de dinheiro. O MP do
Paraguai pediu a prisão de Dalia Lopez no dia 7 de março, um sábado. Desde
então, ela está foragida, apesar de seus advogados já terem declarado que ela
iria se entregar.
Wilmondes
Souza Lira, o empresário amigo de Assis, está preso no Paraguai. Sua mulher,
Paula Lira, que também teria sua prisão pedida, fez um acordo com o Ministério
Público do Paraguai. Ela contou tudo o que sabia sobre o esquema, entregou
documentos e mensagens de celular. Em troca, pôde deixar o Paraguai e voltar ao
Brasil. Ela foi escoltada, de carro, até Foz do Iguaçu.
Enquanto
a investigação avança a passos muito lentos, Ronaldinho e Assis seguem presos
em Assunção. A rotina dos dois mudou ao longo desse mês. Nos primeiros dias, o
assédio era intenso. Ronaldinho recebeu a visita de astros do futebol
paraguaio, como Gamarra, e de outros jogadores ganhou presentes que deixaram
menos dura sua vida na cadeia, como televisão, ar-condicionado, camas,
frigobar. Foi alvo de tietagem de policiais e de gente que visitava o local
mesmo sem ter nenhum parente preso; foi motivo de disputa entre outros presos,
que o queriam como reforço para o campeonato de futebol interno. Viralizaram
vídeos em que ele aparece jogando futsal e futevôlei.
Nas
últimas semanas, principalmente por causa dos cuidados tomados pela
administração da Agrupación Especializada depois da pandemia do coronavírus. No
dia 6 de março, data da prisão, parecia inverossímil imaginar que um dos
maiores jogadores da história do futebol pudesse passar seu aniversário de 40
anos numa cadeia. A data chegou – 21 de março – e Ronaldinho não pôde ter festa
nem visita. Duas semanas depois, continua preso e sem perspectiva de quando
será solto. Seu caso, que chegou a mobilizar o ministro da Justiça do Brasil,
Sergio Moro, hoje não causa a mesma repercussão. A policiais e guardas com quem
convive não se queixa do tratamento, mas diz que não entende porque está preso
há tanto tempo.
Preso
no Paraguai, Ronaldinho Gaúcho recebe presentes e joga futsal com presidiários.
Fontes: Jornal Extra/Globoesporte.com
Postagem: Edmilson Coutinho
Fontes: Jornal Extra/Globoesporte.com
Postagem: Edmilson Coutinho
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